Desabafo sobre a dor que fingimos não existir

Jessica Gomes
2 min readOct 22, 2017

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Existem várias maneiras de se anular, mas a que mais está martelando a minha cabeça é quando, perante a dor do outro, ela sempre será maior que a minha. Isso é algo que brota em mim, mas principalmente vejo brotar em quem está envolvido nos corres das causas sociais. A nossa saúde mental já deteriorada pela sociedade que nos pune por nossas existências, é ainda mais massacrada por nos mesmo quando não damos atenção para essas dores pois os olhos não ficam voltados nossas próprias feridas.

No mundo, onde só enxergamos a superficialidade, a grama do vizinho sempre é mais verde, mas a partir do momento em que a empatia também toma conta das nossas ações e preocupações diárias, o poço do outro é sempre mais fundo. Não ache que estou falando sobre não reconhecer os privilégios, estou falando em achar que aonde somos privilegiados se sobrepõe a nossa existência e sofrimento.

O pensar interseccional nos ajuda nisso, a não isolar as opressões e não hierarquizar, mas estamos praticando com nós mesmos ou só repetimos na hora de falar sobre questões sociais? Amigos, que mais vejo dedicando suas vidas aos outros, a ajudar, a se preocupar, a trazer visibilidade sobre as causas, são o que mais se identificaram com essa minha inquietação nos meus desabafos.

Isso tudo nos causa medo mesmo tentando combater ele, medo de nos expressar perante a violência que sofremos. Aliás, isso dificulta discussões até sobre outras opressões que são invisibilizadas, onde “ninguém nunca morreu por ser isso” é mais ouvido do que a dor diária de quem vive aquela realidade.

Ao lidar com a violência de maneira constante, principalmente quando tenta combater opressões que outros sofrem, as pequenas dores parecem irrelevantes, tudo vai passando despercebido, se transformando num bolo de desespero que nunca é externado.

Algo que temos de trabalhar é o auto conhecimento, mas não apenas para saber o que somos, pois no geral sabemos. O auto conhecimento para ficarmos atentos aos nossos próprios alertas, a priorizar a nossa saúde mental, a fazer valer o que tanto incentivamos nos outros.

Nossas dores, nossas lutas, importam, nossas vidas importam. Sobre isso que temos de focar, sobre o mundo, mas principalmente sobre nós. Enquanto nossas energias não forem priorizadas para anossa existência, dificilmente conseguiremos espelhar a força quase vital que nos une quanto pessoas humanas que se preocupam com o outro. Esse final de texto não é conclusivo, pois também tenho de trabalhar isso em mim, mas ele um passo, e sobre cada passo buscamos a luz do mundo sem opressões, e de uma vida, nossa vida, sendo plena da maneira que sonhamos.

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Jessica Gomes

Jornalista, amante de música, cultura geek, e discussões gerais.